Saúde nos EUA: entendendo um pouco o sistema de saúde americano

Saúde nos EUA é um tema que sempre gera muita dúvida e questionamento. Também não é um tema muito fácil de entender e escrever. Mas como é importante, resolvi assumir mais esse desafio e mostrar para vocês um pouco sobre esse assunto tão complexo.

-Saibam que é um DESAFIO e tanto! Espero que eu consiga dar uma clareada para vocês.

Vamos lá…

Saúde nos EUA: entendendo um pouco do sistema de saúde norte americano
Saúde nos EUA: entendendo um pouco do sistema de saúde norte americano

Saúde nos EUA: não é bem como você imagina…

Diferente do que muita gente pensa, o sistema de saúde nos EUA não é dos melhores…

A tendência é que achemos o contrário… Afinal, estamos falando dos EUA, país desenvolvido e grande potência mundial. Um exemplo de democracia onde tudo funciona; sistema de transporte público, educação, qualidade de vida, distribuição de renda, etc.

Mas quando falamos de saúde não é bem assim!

Na verdade, preciso esclarecer uma coisa aqui: não é que a saúde como um todo seja ruim; depende muito do que estamos falando. Se falarmos do ponto de vista da estrutura dos hospitais, dos tratamentos, da formação profissional e da pesquisa científica, a saúde americana é de qualidade. Agora, se falarmos dos custos e acessibilidade, a história é bem outra.

Saúde nos EUA, em qualquer nível, custa caríssimo e nem todos têm acesso.

O relatório de 2014 da fundação Commonwealth Fund indica que o sistema de saúde dos EUA é o pior dentre 11 países desenvolvidos do mundo (Austrália, Canadá, França, Alemanha, Holanda, Nova Zelândia Noruega, Suécia, Suíça, Reino Unido e EUA).

De acordo com o relatório, mesmo sendo o sistema de saúde mais caro entre os 11 países, os EUA são os piores em termos de “eficiência, equidade e resultados“.

O problema do acesso ao sistema de saúde americano

Ainda segundo a Commonwealth Fund, o acesso desigual da população e a falta de um sistema de saúde único nos EUA é o principal fator para esse fraco desempenho.

Lembra do SUS (Sistema Único de Saúde) aqui no Brasil? “Em tese” é um sistema de saúde público e universal que garante tratamento a todos os cidadãos, de forma gratuita. Pois é, nos EUA isso não existe! Este é o ponto chave para falarmos do sistema de saúde americano.

Não que nos EUA não tenha sistema público de saúde. Até tem, mas o problema é que ele atende somente uma fatia da sociedade, e mesmo assim com algumas exigências e contribuições. O sistema é público, mas NÃO É GRÁTIS.

Se você não faz parte dessa fatia e não tem plano de saúde privado, fica no “limbo”. Se ficar doente vai precisar vender o carro ou hipotecar a casa para pagar o tratamento. Tanto que despesas médicas aparecem no topo das causas de falência pessoal no país.

Saúde nos EUA: um assunto complicado de entender!

A ideia aqui não é entrar no detalhe do sistema de saúde norte-americano. Até porque é bem complexo e eu não saberia detalhar totalmente. Mas sim, mostrar que o seu problema são os custos elevados e a falta de acesso.

Só para vocês terem uma ideia da complexidade, operam, nos EUA, sistemas de saúde exclusivamente públicos, alguns mistos e um exclusivamente privado.

Dos sistemas públicos, os dois maiores são o Medicaid que atende a população de baixa renda e o Medicare que atende os idosos. Os outros são para classes mais específicas ainda (exemplo: para os veteranos das Forças Armadas).

A saída para a maioria dos cidadãos americanos é ter um plano de saúde! O que é mais um problema…. Nem todos têm condição de ter um!

Isto significa que o sistema de saúde americano excluía cerca de 15% da população americana (mais de 40 milhões de cidadãos) no início de 2014, antes da implantação do Obamacare. Essas pessoas não eram elegíveis aos sistemas públicos (não são tão pobres para o Medicaid nem tão idosos para o Medicare), não tinham plano de saúde no emprego e não tinham dinheiro para pagar um plano de saúde privado.

“Obamacare”: a reforma da saúde do governo Barack Obama

A lei, sancionada em 2010 e posta em vigor em 2014, está tentando incluir estes americanos excluídos em algum tipo de seguro. Ela tornou o seguro saúde obrigatório para os cidadãos do país e implementou uma série de medidas (com subsídios do governo, inclusive) para tornar os planos acessíveis a uma maior parcela da população (pessoas de baixa renda, inclusive).

O problema é que ela não saiu como o previsto e não alcançou todo mundo que se esperava (por razões que não cabe discutir aqui). Fato é que, mesmo depois de sua completa implantação, estima-se que mais de 30 milhões de pessoas ainda ficaram de fora, sem seguro saúde.

Isso sem falar no aumento dos custos para as empresas, na resistência das seguradoras, na guerra com os republicanos e na “rejeição” de uma parcela da população. O assunto divide opiniões!

A reforma conseguiu mais iniciar uma ampla discussão sobre o tema do que efetivamente implantar alguma mudança. Para se ter algum resultado concreto, num assunto como saúde nos EUA, o prazo é longo. Sem falar no valor astronômico que isso custa.

O “obscuro” mundo dos planos de saúde americanos

Para piorar a situação, as regras vigentes favorecem as seguradoras. No extremo, poderíamos dizer que o sistema de saúde norte-americano trabalha em favor dos planos de saúde e não do paciente.

Como não existe uma agência reguladora dos planos de saúde, que garanta o equilíbrio do sistema, as seguradoras chegam ao cúmulo de negarem tratamentos sob as mais diversas alegações. Isso sem falar nas fraudes e lucros abusivos.

Quando você entra nessa questão de planos de saúde (health insurance) nos EUA, a coisa fica bem complicada e mais difícil ainda detalhar aqui. É um verdadeiro cardápio de opções, são vários tipos de planos oferecidos, desde a forma como é feito o atendimento até valores de franquia, coberturas e coparticipação.

Normalmente o plano de saúde é oferecido pelas empresas onde os cidadãos trabalham, que nem sempre oferecem todas as opções disponíveis (quem pré-seleciona os planos é o empregador). Não é todo mundo que consegue pagar um plano de saúde privado por conta própria, tem que ter muito dinheiro para suportar os custos.

O Obamacare não deixa de ser uma tentativa de ultrapassar essas barreiras. Além de criar o “mercado independente” de planos (marketplace) com subsídios estatais, a fim de reduzir o mercado individual das seguradoras, a lei impõe algumas regras às seguradoras que não existiam antes. Como, por exemplo:

  • As seguradoras são proibidas de recusar planos de saúde a pessoas com histórico de doenças preexistentes.
  • Os pais podem estender a cobertura do seu seguro saúde aos filhos por mais anos.

Mas, além de enfrentar muita resistência das seguradoras, o caminho para regular todas as normas e resolver o problema ainda vai longe.

Resumo da ópera

Resumo da história:
Teoricamente nos EUA existem os melhores recursos de tratamento e os melhores profissionais especializados, o que acaba acarretando altos custos com a saúde, mas na prática você não tem total acesso a essa famosa saúde de qualidade americana, seja porque não tem condições de ter um plano de saúde, seja porque tem o seguro, mas não consegue usá-lo adequadamente.

-Feia a coisa, né?

Mas não se preocupe; escrevi esse post para vocês entenderem um pouco como funcionam as coisas para quem mora por lá. Se você for um turista (mesmo que de longa estadia) na terra do tio SAM, não vai usar um desses planos de saúde descritos acima. Você deve contratar um seguro viagem.

Com o seguro viagem internacional para os EUA você consegue atendimento médico e hospitalar no sistema privado do país. A questão passa a ser decidir qual o melhor seguro viagem para contratar.

Fiz um material bem legal e detalhado sobre seguro viagem para os EUA (e-book tudo sobre seguro viagem nos EUA). Tem muitas dicas legais. Corre lá e baixe gratuitamente o seu, vale a pena!

13 Comentários

  1. Obrigada pelo post, tanto tempo depois e continua tao atual! O sistema de saude dos EUA e um desastre mesmo! Vivo aqui e digo: nao ha nada pior do que precisar ir ao medico aqui ou ter uma emergencia com filho – nunca sabemos de fato o quanto custara e por quanto tempo ficarao nos cobrando a mesma conta. Na verdade, acho que o maior canal de corrupcao deles e o da saude. Enfim, melhor ter um SUS capenga do que morrer sem jamais ter ido ao medico. Abracos.

  2. Prezada Luciana, Gostaria de saber se quem tem o visto H1B de trabalho nos EUA qual eh o minimo e o maximo que a pessoa deve gastar para satisfazer a lei da obrigatoriedade de Health Insurance e ser atendido no caso de emergencias. Muito obrigado.

    • Oi João, infelizmente não sei te responder. Sugiro um especialista no assunto; na empresa em que você trabalha eles devem saber, não?
      Luciana Coelho

  3. Eu tenho uma filha que é portuguesa tem também acionalidade americana e passaporte morava em Atlanta -há há 27 anos teve um AVC recebe por invalidez dollars 840,00 dos quais desconta
    140,99 para o medicar agora foi para o colorado para junto da filha como é outro estado ela tem o mesmo direito de assistência médica.Obrigado

  4. Bom artigo! Tenho amigos no Brasil que pensam que os Estados Unidos é uma terra feito de doce onde tudo é perfeito. Mas esse não é o caso! Também, nosso sistema de educação também não é muito bom e muitas coisas de os Estados Unidos são inadequadas e imperfeitas. Além disso (não tenho certeza se você incluiu isso em seu artigo) mas os indivíduos sem um plano de saúde também são tributados e logo eles tem que pagar centenas de dólares se não tiverem seguro de saúde.

    P.S
    Desculpa se eu escrevi alguma coisa incorreta. Eu sou de Estados Unidos, aprendendo Português.

    • Oi Jasmin,
      Que bom que gostou do artigo.
      Pois é, logo de cara agente até pensa que o sistema de saúde dos EUA é igual a outros serviços que temos por aí. Mas temos que reconhecer os defeitos e as qualidades tanto do Brasil quanto dos EUA. Saúde é, sem dúvidas, um grande problema por aí. Ao passo que, aqui no Brasil, a questão da segurança pública é de assustar! Abraços, Luciana Coelho

  5. Excelente post. Só uma dúvida, você mora nos EUA? Um amigo meu que está morando em Boston me disse a mesma coisa que você, mas tem uma realidade que não foi mencionada. Geralmente o paciente é atendido completamente sem que se fale em preço. Depois do fim do atendimento, vem a “facada” e ai é hora de negociar. Se a pessoa se declara incapaz de pagar geralmente o Assistente Social encaminha para uma instituição ou mesmo o hospital arca, ou em outros casos a conta é dividida em quantos meses a pessoa puder pagar.

    • Oi Márcio,
      Tudo bom? Obrigada pelo seu comentário complementar. É sempre bom receber informações, e esse assunto é bem vasto e complexo, parece que nunca se esgota, né? O post só dá uma pincelada mesmo. Eu não moro nos EUA ainda, mas estudo sobre o assunto saúde nos EUA porque planejamos mudar para lá e sei que o “bicho pega” nesse quesito. Ele é, inclusive, um dos pontos contra para nossa mudança.
      Abraços, Luciana Coelho

  6. Bom dia!
    Estou fazendo um trabalho onde tenho que abordar o assunto de saúde dos EUA, gostaria de dicas onde posso encontrar… Os sites falam bastante dos planos de saúde, mas gostaria de mencionar como são as estruturas hospitalares das CME e PS e como a equipe de saúde trabalha.
    Quem puder me da uma dica, agradeço!

  7. eu achei bem legal esse post .pq nós sempre achamos que a saúde do outro país é sempre melhor do que a nossa !!! mas estamos completamente enganados,porque todos os países tem algum defeito.

    • Pois é Ana. Nem tudo é o que parece mesmo. Essa questão da saúde é bem delicada nos EUA.
      Luciana Coelho

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